domingo, 17 de julho de 2011

O Erro de Descartes

O FMI e o BCE prometeram emprestar ao Estado português dinheiro a juros elevados para, assim, o Estado português poder pagar dinheiro e juros ainda mais elevados que, ao longo de duas décadas, foi pedindo emprestado a terceiros para gastar sabe-se lá em quê.

Nesse entendimento, impuseram os credores condições para a concessão do empréstimo, pois parece que a prazo vão querer reaver do devedor Estado português aquilo que agora lhe emprestaram ou prometeram emprestar.
As condições acertadas representam portanto para os credores uma espécie de garantia de bom cumprimento futuro da dívida. E, em boa verdade, decorrem da mais elementar razoabilidade cartesiana.
Entre elas figura uma redução muito significativa do número de autarquias locais - que, em Portugal, são centenas e centenas, como todos sabem, e a mais promissora fonte de votos para qualquer partido político; além de que cumprem muito bem a missão social de empregar gerações de pessoas amigas umas das outras.
E tanto assim é que, nos dois últimos anos - já em plena crise económica, quando a própria administração central via reduzir muito ligeiramente o número de efectivos - cresciam aos milhares os funcionários da administração local.

O actual governo prometeu «ir mais longe do que o memorando da troika», isto é, do que aquilo que os credores FMI e BCE lhe impuseram em termos de racionalização das contas públicas, de forma a poder o País saldar um dia a dívida agora contraída. E, até ver, vem cumprindo o que prometeu: anunciando de imediato o aumento da receita do Estado através de um imposto extraordinário sobre o rendimento do trabalho, das pensões, etc. Quase ao mesmo tempo em que ia acalmando a despesa: garantindo a uma mole de profundos autarcas que tinha intenção de extinguir apenas algumas freguesias, e que não se falava mais nisso.

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